sexta-feira, 08 de julho de 2011
fonte: UOL Pan 2011
Esporte e política invariavelmente têm seus caminhos entrelaçados. Na história dos Jogos Pan-Americanos não poderia ser diferente, ainda mais em um continente que viveu polarizado durante a Guerra Fria.
Fidel Castro já recebeu os Jogos em 1991 e também ameaçou boicotar o evento quando realizado nos Estados Unidos. Cubanos e norte-americanos passaram por momentos tensos também na edição brasileira de 1963 e o clima dos Jogos já esquentou até por denúncias de um torturador-atleta. Em 2007, mesmo o popular presidente Lula não escapou das vaias, que certamente tinham mais a ver com política do que com esporte. Confira alguns dos momentos em que esporte e política se relacionaram durante os Jogos Pan-Americanos.
CUBA RECEBE O PAN NO OCASO DA GUERRA FRIA
| O conflito geopolítico entre Estados Unidos e União Soviética conhecido como Guerra Fria nasceu no final da 2ª Guerra e morreu no esfacelamento da União Soviética, com a queda do Muro de Berlim, em 1989. Neste período, foram comuns entreveros entre os países - e respectivos aliados - na esfera esportiva. Nos anos 1980, por exemplo, norte-americanos se recusavam a participar de competições em países que compunham o bloco soviético, e estes também não compareciam a competições em solo capitalista. Cuba ameaçou não comparecer ao Pan de 1987, em Indianápolis (EUA), mas desistiu da ideia em troca de uma oferta: sediar os Jogos seguintes, em 1991. Havana foi a sede o evento, inaugurado com um surpreendentemente rápido discurso de Fidel Castro - na foto entregando medalha à Magic Paula. |
ERNESTO GUEVARA, FOTÓGRAFO ESPORTIVO FREELANCER
O nome de Ernesto "Che" Guevara está marcado na História mundial por conta do pensamento e atuação revolucionários que levaram o argentino a lutar em Cuba, no Congo e na Bolívia. O que a maioria de seus leitores e seguidores não sabem, no entanto, é que Guevara trabalhou como fotógrafo no segundo Pan, realizado em 1955 no México. Então com 26 anos, o futuro guerrilheiro estava precisando de dinheiro e aceitou cobrir os Jogos pela agência de notícias "Prensa Latina". O trabalho de fotojornalista aparentemente não agradou Che, que escreveu em carta para a amiga Tita Infante: "Meu trabalho é exaustivo, pois tenho de ser o compilador de notícias, redator, fotógrafo e cicerone dos jornalistas que chegam da América do Sul. Minha média de horas de sono não passou de quatro, porque eu também fui responsável por revelar e ampliar as fotos." | |
TORTURADOR ATLETA QUASE IMPLODE PAN DE INDIANÁPOLIS
| Não foi só Cuba que ameaçou boicotar o Pan de 1987, realizado nos Estados Unidos - no qual o basquete de Oscar (foto) conquistou o ouro. Veiculou-se a descoberta de que o chileno Francisco Zúñiga não só competia pela equipe de tiro do país, então dirigido por Augusto Pinochet, um dos mais sanguinários ditadores da América Latina, como fazia parte das forças policiais torturadoras de dissidentes políticos do regime. O governo norte-americano, que apoiou o golpe de Pinochet em 1973, acabou vetando a emissão do visto de Zúñiga, e os 16 países que ameaçaram não participar dos Jogos por conta disso voltaram atrás. |
1º PAN NA AMRICA CENTRAL TEM VAIA PARA EUA E REVOLUÇÃO LOGO DEPOIS
O Pan de 1979, realizado em San Juan, Porto Rico, foi o primeiro na América Central. O continente vivia momento político de tensão, com grande peso da política norte-americana de contra-insurgência na América Latina. Logo na abertura, o partido socialista porto-riquenho promoveu uma grande vaia à delegação dos EUA, e a tensão se agravou quando o técnico do basquete norte-americano disse que "a única coisa que os porto-riquenhos sabem fazer é plantar bananas". Cinco dias depois do encarramento do evento, os guerrilheiros sandinistas tomavam Manágua, capital da Nicarágua, na primeira revolução socialista bem-sucedida na região após a guinada de Cuba para o bloco da União Soviética. Na foto, nadador brasileiro Romulo Arantes, prata nos 100m costas. | |
PERÓN LEVA ABERTURA PARA ESTÁDIO DE SEU TIME DO CORAÇÃO EM 1951
| Juan Domingo Perón presidiu a Argentina entre 1946 e 1955 e depois em 1973 e 1974. Nacionalista, sempre foi criticado por sua faceta autoritária. No Pan de 1951, que aconteceu em Buenos Aires, o então presidente deu um de seus sinais de personalismo: levou a abertura para a vizinha Avellaneda, sede de seu time do coração, o Racing. O palco da cerimônia tem, "por coincidência", o nome de Juan Domingo Perón. O país vivia clima pré-eleitoral, e os Jogos eram importantes para propagandear o grupo do presidente. Na foto, Adhemar Ferreira da Silva recebe beijo de Wanda dos Santos, ambos medalhistas em 1951. |
DEPOIS DE CRISE, BRASIL TENTA APAZIGUAR CLIMA ENTRE EUA E CUBA EM 1963
Por pouco o ano de 1962 não foi marcado por um conflito nuclear que poderia ter destruído o planeta: na chamada "Crise dos mísseis", a URSS enviou ogivas nucleares para Cuba, numa operação que quase significou um ataque por parte do governo de Kennedy. O Pan de 1963, realizado em São Paulo, ocorreu ainda sob impacto de tamanha tensão, e a organização local tentou aproximar as delegações de EUA e Cuba. A diplomacia ruiu quando os norte-americanos perderam a final do beisebol para os cubanos, e se retiraram do pódio após receberem a medalha de prata. | |
O OUTRO LADO DE JOÃO DO PULO
| João do Pulo surpreendeu o mundo ao bater o recorde mundial do salto em distância no Pan de 1975, saltando 45cm mais do que a antiga marca. Em 1979 ele foi bicampeão. No entanto existe um lado menos honroso na história do atleta: detentor da patente de sargento, João do Pulo foi próximo ao governo militar brasileiro - regime responsável por inúmeros desrespeitos aos direitos humanos entre 1964 e 1985. Após a vitória em 1975, João do Pulo apresentou-se fardado ao general Ernesto Geisel, então presidente. Na década de 1980, filiou-se ao PFL, partido que continuou a trajetória da Arena, organização criada pelo regime militar quando liberou a existência de agremiações políticas. João foi eleito deputado por duas vezes, exercendo mandato até 1994. |
VAIADO, LULA NÃO CONSEGUE DISCURSAR NA ABERTURA DO PAN 2007
O alto índice de aprovação que Luiz Inácio Lula da Silva teve durante seus dois mandatos de presidente não se refletiu no Pan do Rio de Janeiro. Vaiado em peso por grande parte das 75 mil pessoas presentes no Maracanã na cerimônia de abertura, o então presidente desistiu de discursar. Na cerimônia de encerramento, o ex-metalúrgico não compareceu, e mesmo assim não escapou: quando o presidente do COB, Carlos Nuzman, citou o nome do presidente, as vaias voltaram a se fazer presentes. Para quem não lembra, na época o prefeito do Rio era Cesar Maia, crítico ao governo petista. | |
0 comentários:
Postar um comentário